Pescoço de SMS

Pescoço de SMS

O uso excessivo de telemóveis, smartphones e tablets está a afetar a cervical de muitos portugueses. A coluna das crianças também está a ser prejudicada

Em média, passamos entre duas a quatro horas por dia, curvados sobre o telemóvel a ler e-mails, enviar SMS ou a consultar a internet e a atualizar as redes sociais. Um hábito tão comum que nem imaginaríamos que podia ter riscos para a saúde. O ato de baixar a cabeça para consultar o ecrã de um smartphone pode ter consequências na cervical. Uma pesquisa elaborada por Kenneth Hansraj, chefe do departamento de cirurgia da coluna do New York Spine Surgery & Rehabilitation Medicine, nos Estados Unidos da América, não deixa margem para dúvidas, se é que ainda as houvesse.

O estudo internacional concluiu que, à medida que inclinamos a cabeça (que num adulto pesa, em média, entre quatro quilos e meio e cinco quilos e meio) para a frente e para baixo, o peso exercido na cervical aumenta gradualmente. Sobe para cerca de 12 quilos num ângulo de 15 graus e atinge os 18 quilos num ângulo de 30 graus. De forma surpreendente, aumenta para os 22 quilos num ângulo de 45 graus. Se o ângulo for de 60 graus, o peso exercido sobre o pescoço será de 27 quilos, o equivalente ao peso de uma criança de oito anos. Impressionado?

As consequências de uma utilização excessiva

A pressão que esta postura errada exerce sobre a cervical e que, anualmente, representa cerca de 700 a 1.400 horas, pode levar, segundo  o estudo, a que os tecidos fiquem doridos e inflamados, provoca tensão muscular e pode mesmo alterar a curvatura natural do pescoço.  O primeiro sinal de alerta são as dores nas costas e no pescoço mas Kenneth Hansraj acredita que as consequências podem ser mais vastas, gerando «desgaste prematuro da cervical, aparecimento de hérnias discais e necessidade de intervenção cirúrgica». Outras possíveis consequências incluem «a redução da capacidade pulmonar até 30 por cento, dores  de cabeça, depressão e doença cardíaca», refere o investigador ao jornal norte-americano The Washington Post.

O grupo de maior risco

Em declarações ao jornal norte-americano, Kenneth Hansraj refere que este problema é especialmente preocupante nos jovens, que acabam por ser mais afetados. Estes são capazes «de passar mais 5000 horas por ano nesta posição» do que a restante população, «o que significa que, dentro em breve, poderemos começar a assistir a pessoas cada vez mais novas a precisarem de tratamentos para a coluna». Por isso, Kenneth Hansraj «gostaria de ver os pais a ter mais atenção a isso».

O que fazer para não prejudicar a sua coluna

Estratégias do investigador para continuar a usufruir do seu smartphone sem prejudicar a saúde:

– Mantenha uma boa postura

Consiste em manter os ombros para trás, alinhados com as orelhas.

– Mova apenas os olhos

Olhe para o telemóvel fazendo descer o olhar se necessário, mantendo a postura certa, sem inclinar o pescoço.

– Exercite o pescoço

Mova a cabeça para a direita e para a esquerda várias vezes e utilize as mãos para oferecer resistência e empurre a cabeça para a frente e para trás. Existe ainda um outro exercício que pode repetir. Coloque-se na ombreira de uma porta com os braços esticados e empurre o peito para a frente, para fortalecer os músculos da boa postura.