Hallux valgus e joanete

Hallux valgus e joanete

O hallux valgus é uma deformação do primeiro dedo do pé, caracterizada pelo desvio da ponta do dedo em direcção aos outros dedos, o que favorece o surgimento de uma típica proeminência na sua base, denominada joanete, que se manifesta através de dores.

Causas

Em condições normais, o primeiro dedo do pé, cuja denominação em latim é hallux, encontra-se perfeitamente alinhado com o primeiro osso metatársico. Em caso de hallux valgus, o metatarso é desviado para a parte interna do pé, enquanto que o primeiro dedo fica inclinado em direcção aos outros dedos do pé, sobrepondo-se ou “empurrando-os”, o que provoca a formação de uma proeminência na base do primeiro dedo, designada joanete, devido ao facto de a articulação que une a primeira falange ao metatarso formar um ângulo fechado virado para a parte interna do pé.

Esta deformação é provocada por vários factores, alguns mais relevantes do que outros. Por um lado, existe um evidente factor constitucional de predisposição, já que o problema é mais frequente nas pessoas com um primeiro dedo mais longo do que os restantes dedos do pé, pois a compressão exercida pelo calçado provoca a sua deformação. Um outro factor desencadeador muito importante é a utilização regular de calçado inadequado, nomeadamente sapatos curtos de biqueira estreita, que empurram o primeiro dedo contra a estrutura do pé e contra os outros dedos e, sobretudo, sapatos de salto alto (por vezes, exageradamente altos), tendo em conta que, como o primeiro dedo é obrigado a suportar a maior parte do peso do corpo, a sua compressão é maior, o que a longo prazo provoca o desenvolvimento de uma deformação anatómica.

Existem outros factores que podem propiciar o aparecimento e o desenvolvimento da deformação, como é o caso dos processos inflamatórios crónicos das articulações do pé (artrite reumatóide, gota), a permanência prolongada de pé, o pé plano e a debilidade ao nível dos ligamentos e dos músculos do pé. No entanto, a origem do problema reside, na maioria dos casos, na compressão efectuada por um calçado inadequado.

 

Manifestações

Dado que o desvio do primeiro dedo do pé, normalmente bilateral e simétrico, costuma desenvolver-se de forma lenta e progressiva ao longo dos anos, na maioria dos casos, apenas se evidencia após os 40 anos de idade. Numa primeira fase, quando o desvio ainda não é muito pronunciado, o principal sintoma é uma dor inconstante na zona do metatarso, a parte média do pé. É uma dor não muito intensa que aparece, sobretudo, após se permanecer de pé durante um longo período de tempo ou após uma longa caminhada, particularmente quando se utilizam sapatos de biqueira estreita e saltos altos, diminuindo de intensidade com o repouso. Numa fase mais avançada, quando a deformação é já mais pronunciada, a dor costuma ser intensa e constante, sem ceder com o repouso.

À medida que o metatarso é desviado para a extremidade interna do pé e o primeiro dedo se inclina sobre os outros dedos, vai-se formando uma proeminência no ângulo, provocando a formação do joanete. Neste caso, a dor localiza-se no ponto de maior compressão do calçado, podendo igualmente propiciar a formação de um calo devido ao contínuo atrito.

Em alguns casos, assiste-se à inflamação da bolsa serosa desta zona, que fica tumefacta, vermelha, quente e dolorosa. Caso não se proceda ao oportuno e devido tratamento, o desvio do primeiro dedo torna-se permanente e fixo, tendo a tendência para provocar uma alteração na anatomia e na mecânica do resto do pé, ao mesmo tempo que os processos inflamatórios da zona se tornam cada vez mais frequentes e incómodos.

 

Tratamento

Nas primeiras fases do problema, a articulação metatarsofalângica ainda conserva a sua mobilidade, sendo possível travar o desenvolvimento do desvio e diminuir a intensidade da dor através da utilização de pequenas talas que mantêm as estruturas do pé na posição adequada. Trata-se de pequenas almofadas de silicone, fabricadas especificamente para cada caso, em função do pé a tratar, que devem ser colocadas entre os dedos, de modo a evitar as sobreposições. Embora este recurso sirva para prevenir os atritos e as irritações, caso seja utilizado nas fases iniciais do problema e associado ao calçado adequado, pode-se conseguir a correcção do defeito. De qualquer forma, quando o desvio dos ossos é já significativo, como não é possível solucionar o problema, o tratamento visa apenas diminuir a intensidade da dor e reduzir os incómodos.

Por estas razões, o único tratamento eficaz corresponde à cirurgia. Existem várias técnicas cirúrgicas, cuja selecção depende das características de cada caso, para alterar a articulação metatarsofalângica. A mais comum consiste em limar ou extrair um fragmento do metatarso, de modo a corrigir o ângulo da articulação. A intervenção cirúrgica, que deve ser efectuada sob anestesia geral e necessita do internamento do paciente no hospital por alguns dias, costuma ter um período pós-operatório de uma semana a dez dias, período após o qual o médico pode indicar a realização de alguns exercícios de reabilitação. Na maioria dos casos, consegue-se a total recuperação funcional do pé e a eliminação da dor ao fim de um mês.

 

Informações adicionais

Resposta médica

Embora já tenha joanetes há muito tempo em ambos os pés, ultimamente a situação tem vindo a piorar. A dor aumentou e tornaram-se vermelhos e quentes.

Esses sinais e sintomas são típicos de um processo infeccioso, uma complicação propiciada pela erosão da pele da zona proeminente devido aos atritos com o calçado, que provoca a penetração de micróbios que, normalmente, se encontram na superfi’cie cutânea. Nesta fase, a região adopta uma coloração avermelhada, inflamando-se, ficando quente e evidenciado.