Dores na cervical
Causas
O aparecimento de dores no pescoço pode ser provocado por várias situações, já que qualquer alteração numa das inúmeras e distintas estruturas dessa zona pode provocar a manifestação de dores nessa região do corpo. De qualquer forma, não existem dúvidas de que a maioria destes problemas são de índole mecânica, sobretudo relacionados com problemas que afectam o primeiro sector da coluna vertebral. De facto, esta dor costuma ser provocada por uma irritação das terminações nervosas situadas nas articulações, nos ligamentos, nos ossos e nos músculos da coluna cervical.
Existem inúmeras alterações que podem provocar dor na região cervical: artroses, distensões, luxações ou fracturas vertebrais, espondilite anquilosante, processos infecciosos, tumores, etc. Para além disso, a dor também pode ser provocada por factores de índole psicológica, nomeadamente em situações de stress que provoquem a contracção dos músculos do pescoço.
Por vezes, consegue-se determinar com precisão o motivo do aparecimento da dor cervical; porém, na grande maioria dos casos, é muito difícil, ou até mesmo impossível, determinar a sua verdadeira origem, já que as lesões que provocam a dor são muito ligeiras e não costumam ser detectadas através dos exames habituais. Nestes casos, fala-se de dor cervical inespecífica.
A dor cervical tanto pode ser aguda, de aparecimento súbito e de curta duração, como crónica e persistente.
A dor cervical aguda caracteriza-se pelo brusco surgimento de uma dor no pescoço que, por vezes, irradia para a nuca, para os ombros ou para a parte anterior do tórax. Embora a sua intensidade possa variar conforme o caso, geralmente, a dor é intensa e costuma aumentar de intensidade perante a realização de qualquer movimento, sendo acompanhada, regra geral, por uma contractura muscular que limita a movimentação do pescoço. Normalmente, a dor mantém-se durante alguns dias, no máximo algumas semanas, após as quais vai diminuindo de intensidade até desaparecer. Embora seja, por vezes, um episódio isolado, sem repetição, é bastante comum que, consoante a sua origem, possam surgir crises semelhantes noutras ocasiões.
Apesar de a dor cervical crónica também poder ter um início brusco, consequente de uma crise aguda que não cede, na grande maioria dos casos, vai-se evidenciando de forma progressiva. Costuma tratar-se de uma dor persistente, intermitente ou oscilante, que normalmente aumenta de intensidade com a realização de determinados movimentos ou com a adopção de certas posturas. Para além disso, pode haver episódios de agudização de uma dor crónica.
O tratamento de uma crise aguda de dor no pescoço passa pela administração de analgésicos e relaxantes musculares e pela aplicação de calor na zona. Para além disso, deve-se recorrer à utilização de um colar cervical, sobretudo para evitar movimentos bruscos que aumentem a dor e para proporcionar repouso à zona. De qualquer forma, a partir do momento em que a dor começa a diminuir de intensidade, devem ser efectuados vários exercícios, graduais e moderados, devidamente acompanhados por um fisioterapeuta. As massagens, a aplicação de ultra-sons, corrente eléctrica ou raios infravermelhos e outras medidas de fisioterapia costumam contribuir para uma diminuição da dor e para uma rápida cura da crise aguda. Para além disso, o médico também pode recomendar sessões de tracção cervical, com o objectivo de “descomprimir” as articulações. Neste caso, é conveniente que o paciente realize vários exercícios diferentes, de modo a equilibrar e fortalecer a musculatura do pescoço, sem esquecer, contudo, a possível participação de factores psicológicos na origem da dor.
O torcicolo designa a contractura dolorosa dos músculos do pescoço que, ao impedir a normal movimentação do mesmo, bloqueia a cabeça numa posição fixa ou impede a sua rotação para um dos lados. Existem alguns casos de torcicolo congénito, resultantes de alterações anatómicas musculares ou ósseas, os quais podem necessitar de uma intervenção cirúrgica, se não se produzir uma evolução espontânea favorável. De qualquer forma, embora a dor, na maioria dos casos, se manifeste de forma brusca, muitas vezes desencadeada por traumatismos ou movimentos bruscos, por vezes, costuma ser provocada após uma noite de sono numa má posição, por complicações consequentes de lesões discais e artroses que provoquem uma irritação muscular ou ainda devido a factores psicológicos.
O torcicolo costuma provocar a contractura espasmódica de um dos músculos esterno-cleidomastoideus, que participam na inclinação e na rotação lateral da cabeça, já que como um dos músculos se encontra contraído e o outro relaxado, a cabeça fica bloqueada numa posição fixa para um dos lados, o que torna qualquer movimento para o outro lado doloroso ou impraticável.
O tratamento do torcicolo passa por manter a zona em repouso, por exemplo, através da utilização de um colar cervical, ao qual se pode acrescentar a administração de analgésicos, de anti-inflamatórios e de relaxantes musculares e a realização de sessões de massagens ou de outros procedimentos de fisioterapia. Este tipo de tratamento proporciona o desaparecimento da dor ao fim de alguns dias, ainda que sejam necessárias, por vezes, algumas semanas. Caso o problema persista, convém examinar minuciosamente a sua origem, para que seja possível proceder-se ao devido tratamento.
A irritação ou compressão de alguma das raízes nervosas provenientes da medula espinal na coluna cervical pode originar o aparecimento de uma dor intensa no pescoço, na região dorsal e num dos membros superiores. A exacta localização da dor depende da raiz espinal afectada, já que a dor é perceptível ao longo de toda a zona inervada sensitivamente pela raiz (na figura, é possível observar as zonas inervadas pelas diferentes raízes espinais cervicais).
Embora possa ser provocada por qualquer alteração que provoque a deslocação ou inflamação das estruturas próximas das raízes nervosas, a principal causa para o desenvolvimento de uma nevralgia corresponde a uma hérnia discai, independentemente de esta ser provocada por um traumatismo ou originada por um processo degenerativo crónico.
A crise manifesta-se, na maioria dos casos, repentinamente, mas por vezes é precedida de uma dor cervical crónica e de episódios agudos. A dor pode ser acompanhada por outros sinais e sintomas neurológicos, como formigueiros, sensação de frio ou calor, pontadas e cãibras na zona afectada. Normalmente, estes sinais e sintomas vão desaparecendo de maneira espontânea ao fim de algumas semanas, durante as quais convém manter o pescoço em repouso através da utilização de um colar cervical, de forma a facilitar a recuperação das lesões e a cura da irritação das raízes nervosas afectadas. Nos casos mais graves, se o problema não ceder ou caso se manifestem sinais e sintomas de uma grave deterioração de alguma raiz nervosa, por exemplo através do comprometimento da sua função motora, convém recorrer à cirurgia para efectuar uma descompressão e reparar as lesões responsáveis.