ALGUNS PROBLEMAS ESQUELÉTICOS FREQUENTES
Nas crianças em fase de crescimento, os ossos podem apresentar-se desalinhados. Esses problemas incluem escoliose, pela qual a coluna vertebral se encurva anormalmente, e uma variedade de problemas que afectam os ossos das ancas, o fémur, os joelhos e os pés. Muitas vezes, o problema soluciona-se por si mesmo, mas às vezes a causa é uma perturbação que deve ser tratada.
Escoliose
A escoliose é a curvatura anormal da coluna vertebral.
Cerca de 4 % de todas as crianças entre os 10 e os 14 anos têm escoliose perceptível. Aproximadamente entre 60 % e 80 % de todos os casos afecta as raparigas. A escoliose pode manifestar-se como um defeito de nascimento. Quando se desenvolve depois, não se encontra nenhuma causa em 75 % dos casos; o resto é causado pela poliomielite, paralisia cerebral, osteoporose juvenil ou outras doenças.
Escoliose
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Sintomas e diagnóstico
A escoliose ligeira é habitualmente assintomática. Pode sentir-se fadiga nas costas quando se permaneceu sentado ou parado durante um período de tempo prolongado, seguida de uma dor mais muscular localizada e, finalmente, de uma dor mais forte.
As curvas, na sua maioria, são convexas para a direita na parte superior das costas e para a esquerda na parte inferior; portanto, o ombro direito é mais alto do que o esquerdo e uma anca pode ser mais alta do que a outra.
A escoliose ligeira pode detectar-se numa exploração médica de rotina. Um pai, professor ou médico poderá suspeitar se a criança tiver um ombro que parece mais alto do que o outro ou quando a roupa descai de um dos lados do corpo. Para diagnosticar a doença, o médico solicita que a criança se incline para a frente e observa a coluna vertebral de trás, já que a curva espinhal anormal se detecta mais facilmente nesta posição. As radiografias contribuem para confirmar o diagnóstico.
Prognóstico e tratamento
O prognóstico depende do lugar em que se encontra a curva anormal, da gravidade e do momento em que os sintomas se manifestam. Quanto mais pronunciada for a curvatura, maior será a probabilidade de piorar.
Metade das crianças com escoliose perceptível precisa de tratamento ou de um controlo cuidadoso por parte do médico. Um tratamento oportuno pode evitar uma deformação maior.
Normalmente, uma criança que tem escoliose é tratada por um especialista ortopédico. Pode usar-se um colar plástico para manter a coluna direita. Em algumas ocasiões, realiza-se uma estimulação eléctrica da coluna vertebral, por meio de pequenas correntes eléctricas aplicadas aos músculos da mesma, que permitem endireitá-la. Por vezes exige-se cirurgia para fundir as vértebras, inserindo uma vara de metal que permite manter a coluna direita até que as vértebras se tenham fundido.
A escoliose e o seu tratamento podem causar problemas psicológicos, prejudiciais para a imagem do adolescente. O uso de um colar ou de uma armação de gesso poderá preocupar a criança por parecer diferente dos outros, e a hospitalização e a cirurgia podem ameaçar a independência de um adolescente. Contudo, renunciar a estas soluções poder ter como consequência uma deformidade permanente. A assistência e o apoio podem ser úteis.
Problemas do osso ilíaco e do fémur
Numa criança, os fémures podem torcer-se para dentro, de tal forma que os joelhos se enfrentam parcialmente (joelhos que se roçam) e os dedos dos pés se unem. Dormir de boca para baixo com as pernas esticadas ou estar sentado ou a dormir com os joelhos elevados para o peito pode agravar o problema. Se a afecção persistir depois dos 8 anos, a criança deve consultar um cirurgião ortopédico.
Em crianças muito pequenas, os fémures habitualmente apontam para fora. Quando dormem de boca para baixo com os pés apontando em direcções opostas e com as pernas voltadas para fora, pode-se prolongar a doença. Rodar as pernas para o centro com cada mudança de fralda pode ser útil, mas na maioria dos casos a doença corrige-se quando a criança aprende a andar.
Nos adolescentes, a claudicação (coxeio) e a dor de anca ou, de vez em quando, de joelho ou de coxa podem ser causadas por um deslizamento epifisário da cabeça femoral, em que a extremidade superior (epífise) do fémur se desloca. Em crianças mais pequenas, os mesmos sintomas podem dever-se à perda do fornecimento de sangue ao colo do fémur (doença de Legg-Calvé-Perthes).
Deslizamento epifisário da cabeça femoral
O deslizamento epifisário da cabeça femoral é uma deslocação da extremidade superior crescente (epífise) do osso da anca (fémur).
Esta perturbação é habitual entre adolescentes com peso a mais, geralmente do sexo masculino. Embora a causa seja desconhecida, a perturbação pode dever-se a uma placa de crescimento espessa (porção do osso onde tem lugar o crescimento), que se vê afectada por valores de hormona do crescimento e estrogénio no sangue.
O primeiro sintoma pode ser a rigidez da anca, que melhora com o repouso. Depois, aparece a claudicação (coxeio), seguida de dor de anca que se estende desde a parte interna da coxa até ao joelho. A perna afectada, geralmente, encontra-se voltada para fora. A cabeça do fémur pode deteriorar-se, causando colapso da placa de crescimento. As radiografias da anca afectada mostram um alargamento da placa de crescimento ou uma posição anormal da cabeça do fémur.
Deslizamento da epífise da cabeça femoral
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É importante um diagnóstico precoce, visto que o tratamento se torna mais difícil à medida que a perturbação avança.
A cirurgia correctiva pode ser necessária para colocar a placa de crescimento na sua posição correcta e segurá-la com pregas metálicas. O adolescente é imobilizado com uma armação de gesso durante várias semanas ou inclusive meses.
Problemas de joelho: genu varo e genu valgo
O genu varo e o genu valgo, se não forem tratados, poderão causar osteoartrite nos joelhos com o passar dos anos.
O genu varo é frequente nas crianças pequenas e, habitualmente, corrige-se aos 18 meses de idade. Se o genu varo persiste ou piora, a causa pode ser a osteocondrose tibial (doença de Blount) ou raquitismo, anomalia do desenvolvimento ósseo causada pela carência de vitamina D. (Ver secção 12, capítulo 135) A vitamina D é necessária para a incorporação normal de cálcio nos ossos. A doença de Blount pode ser tratada, por vezes, por meio de uma tabuinha que se usa à noite, mas em geral exige cirurgia. O raquitismo pode ser tratado habitualmente com suplementos de vitamina D.
O genu valgo é menos frequente. Inclusive em casos graves, a doença habitualmente corrige-se por si mesma aos 9 anos de idade. Se persistir depois dos 10 anos, pode ser necessário recorrer à cirurgia.
Nos adolescentes, a cartilagem sob a rótula pode amolecer devido a uma degenerescência desconhecida ou a uma lesão mínima ocasionada pela má posição da rótula. Este estado denomina-se condromalácia patelar. Causa dor, especialmente ao subir ou descer escadas. O tratamento consiste em realizar exercícios para fortalecer os músculos que rodeiam os joelhos, evitar as actividades que produzem dor e administrar aspirina para aliviar esse sintoma.
Problemas do pé
Um de cada 100 recém-nascidos sofre de alguma anomalia do pé, mas a maioria resolve-se sem qualquer tratamento. Um bebé pode aparentar ter um pé chato por causa de uma almofadinha saliente que se encontra no arco do pé. Habitualmente, o arco pode ver-se quando o bebé se põe em bicos. Se uma criança mais crescida tiver dores ou cãibras por ter os pés chatos, pode precisar de sapatos correctores.